quinta-feira, 4 de julho de 2013

DA VENDA DE INDULGÊNCIAS



Ante as manifestações que pululam pelo Brasil à fora toda sorte de análises e comentários foram feitos.

Estas manifestações populares que vão da exigência de moralidade administrativa, honestidade dos agentes públicos, melhoria dos hospitais públicos, melhores colégios, mais e melhores estradas, educação, fim à corrupção, reforma política, com a extinção do cargo de suplente de senador, fim da reeleição e coligações políticas, dentre outras, me incitaram a fazer uma série de análises.

A primeira delas, diz respeito à representatividade. Ouvi certa noite, que tais manifestações careciam de representatividade, eis que numa massa de 12 milhões de habitantes, numa cidade como São Paulo, apenas dez mil foram às ruas.

Isto me fez recordar que não é o número de pessoas presentes à uma manifestação, mas sim, suas causas e consequências, bem como a reação do outro lado.
Veja-se que a Revolução Francesa, fato que abalou as estruturas mundiais no que diz respeito a formas de governo, representatividade, participação, etc, iniciou-se com uns poucos nos pátios do Palácio de Versalhes. A queda da Bastilha, logo em seguida, também.

Mais adiante, já no século 20, a Revolução Russa, que deu origem ao regime comunista e à mudança no cenário mundial, dividindo-o em dois blocos, também se iniciou com uns poucos exigindo pão ao Czar.

Portanto, não é o número de pessoas, mas como já disse suas causas e consequências. Aliás, as formas de protesto são inúmeras, de manifestações populares em passeatas às redes sociais. Somem-se todos os movimentos.

Uma segunda análise tem à ver com a motivação.

Ouvi e li toda sorte de interpretações. Desde a afirmativa de que se tratava de jovens sem qualquer conhecimento e baderneiros à afirmativa de que se tratava de grupos desencontrados e sem qualquer rumo.

Na verdade, os manifestantes, não se podiam dizer somente jovens. Junto à juventude, nada alienada e perfeitamente ciente do que estava fazendo e porque, como também encontramos os jovens dos movimentos libertários dos anos 60, das “Diretas Já”, do “Fora Collor”, que unidos aos jovens de hoje, manifestavam sua insatisfação ao atual estado de coisas no Brasil.

Vê-se, portanto que, a motivação existe e é das mais sérias possíveis.
Destas duas análises, enveredei pela senda da busca.

Vê-se no Brasil de hoje, a prática, pelos governantes de plantão, toda sorte de atitudes que ferem a prática do bom governo.

Vemos corrupção desenfreada, deterioração dos sistemas de saúde e educacional. Vemos o desmanche da infraestrura e acima de tudo, vemos o Estado  ser colocado acima do cidadão, para satisfazer os interesses de uns poucos (L’etat c’est moi – Por esta frase um rei perdeu a cabeça), quando na verdade o Estado somos nós (povo) e deve estar ao nosso serviço e não nós a serviço do Estado.

Para a manutenção deste estado de coisas, o partido governante, além de efetuar o aparelhamento do Estado, colocando-o à seu serviço, faz toda sorte de coligações, pouco importando com quem.

Isto lembra-me do episódio  que resultou na Reforma de Martin Luther. Hoje, a Presidente  (jamais vou chama-la de presidenta, eis que não quero violentar a língua portuguesa), ontem o ex Presidente, mentor da atual, assim como a Igreja na época da Reforma, vendem e vendiam indulgências, fazendo toda sorte de conchavos, distribuição de cargos, espalhando dinheiro do erário e de terceiros, comprando apoio, fazendo alianças.

Estes fatos geraram distorções em nosso sistema.

É contra isto que o povo vai às ruas.

É por um Brasil melhor, sério, com serviços públicos competentes e sérios, com um sistema de saúde pública que verdadeiramente atenda ao cidadão, com um sistema de transporte público com níveis de excelência que o povo vai às ruas.

É pelo fim da corrupção que o povo vai às ruas.

É pelo Brasil que vamos às ruas.

Encerro, parafraseando Darcy Ribeiro, inclusive alterando o que ele disse: "Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E o povo brasileiro não vai se resignar nunca".

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